Alterações Uterinas, Placentárias e Insuficiência Istmocervical

"Alterações uterinas, placentárias e insuficiência istmocervical podem afetar a gravidez. Entenda as principais condições, seus riscos e a importância do acompanhamento pré-natal."

1/24/20255 min read

Problemas Uterinos:

    As alterações uterinas podem ser congênitas (presentes desde o nascimento) ou adquiridas.

1. Malformações Uterinas (Anomalias Müllerianas):

  Resultam de um desenvolvimento anormal dos ductos de Müller durante a embriogênese. A classificação mais utilizada é a da American Fertility Society (AFS), que divide as malformações em:

  • Agenesia Mülleriana (Aplasia Mülleriana): Ausência total ou parcial do útero e/ou vagina. A implantação é impossível, resultando em infertilidade.

  • Útero Unicorno: Desenvolvimento de apenas um ducto de Müller, resultando em um útero menor, com apenas uma trompa. Associa-se a maior risco de aborto (principalmente no segundo trimestre), parto prematuro e apresentação fetal anormal.

  • Útero Didelfo: Falha na fusão completa dos ductos de Müller, resultando em dois úteros separados, cada um com seu próprio colo e, às vezes, duas vaginas. Aumenta o risco de aborto, parto prematuro e restrição de crescimento intrauterino (RCIU).

  • Útero Bicorno: Fusão incompleta dos ductos de Müller, com um único colo, mas com duas cavidades uterinas parciais. O risco de complicações gestacionais é intermediário entre o útero unicorno e o didelfo.

  • Útero Septado: Presença de um septo (parede) que divide a cavidade uterina. É a anomalia mais comum e está associada a maior risco de aborto (principalmente no primeiro trimestre), parto prematuro e má apresentação fetal.

  • Útero Arqueado: Leve depressão no fundo uterino. Considerada por alguns como uma variação da normalidade, geralmente não causa problemas significativos na gestação.

Base Científica: Estudos embriológicos e de imagem (histerossalpingografia, ultrassonografia 3D, ressonância magnética) comprovam a origem e a classificação dessas malformações, além de sua associação com complicações obstétricas.

2. Útero Infantil (Hipoplasia Uterina):

   Caracteriza-se por um útero menor do que o esperado para a idade, com desenvolvimento incompleto. Pode dificultar a implantação do embrião e aumentar o risco de aborto e parto prematuro.

Base Científica: A hipoplasia uterina está associada a alterações hormonais (principalmente deficiência de estrogênio) e pode ser diagnosticada por ultrassonografia.

3. Miomas Uterinos (Leiomiomas):

    Tumores benignos compostos por tecido muscular uterino. Sua influência na gestação depende do tamanho, número e localização:

  • Submucosos: Localizados abaixo do endométrio, podem interferir na implantação e causar sangramento.

  • Intramurais: Localizados dentro da parede muscular do útero, podem causar dor, compressão e aumentar o risco de parto prematuro e má apresentação fetal.

  • Subserosos: Localizados na superfície externa do útero, geralmente causam menos sintomas, a menos que sejam muito grandes.

Base Científica: Estudos epidemiológicos e de imagem demonstram a associação entre miomas e complicações gestacionais, como aborto, parto prematuro, RCIU e hemorragia pós-parto.

4. Aderências Uterinas (Sinéquias Uterinas):

   Cicatrizes dentro da cavidade uterina, geralmente causadas por curetagem, infecções ou cirurgias. Podem causar alterações menstruais, dor e infertilidade, além de aumentar o risco de aborto e placenta prévia.

Base Científica: A histeroscopia é o exame padrão-ouro para o diagnóstico e tratamento das sinéquias uterinas.

Insuficiência Istmocervical (IIC):

    Incapacidade do colo do útero de se manter fechado durante a gravidez, levando à dilatação precoce e parto prematuro (geralmente no segundo trimestre).

Base Científica: A IIC está associada a fatores congênitos, traumas cervicais (cirurgias, partos anteriores) e exposição ao dietilestilbestrol (DES) no útero.

Problemas Placentários:

1. Placenta Prévia:

Implantação da placenta na parte inferior do útero, cobrindo parcial ou totalmente o orifício cervical interno. Causa sangramento indolor, geralmente no segundo ou terceiro trimestre, e exige parto cesárea.

Base Científica: A placenta prévia está associada a fatores como idade materna avançada, multiparidade, cesáreas anteriores e tabagismo.

2. Descolamento Prematuro da Placenta (DPP):

Separação prematura da placenta da parede uterina antes do parto. Causa sangramento vaginal (nem sempre presente), dor abdominal intensa e contrações uterinas. É uma emergência obstétrica que pode levar a sofrimento fetal, parto prematuro, hemorragia materna e até óbito fetal.

Base Científica: Fatores de risco incluem hipertensão arterial, tabagismo, uso de cocaína, trauma abdominal e história prévia de DPP.

3. Insuficiência Placentária:

A placenta não consegue fornecer nutrientes e oxigênio suficientes para o feto. Causa Restrição de Crescimento Intrauterino (RCIU), sofrimento fetal e aumento do risco de complicações neonatais.

Base Científica: Diversos fatores podem contribuir para a insuficiência placentária, como hipertensão, diabetes, tabagismo, trombofilias e gestação múltipla.

4. Acretismo Placentário (Placenta Acreta, Increta e Percreta):

Implantação anormal da placenta, com diferentes graus de invasão na parede uterina:

  • Acreta: A placenta adere diretamente ao miométrio, sem invasão.

  • Increta: A placenta invade o miométrio.

  • Percreta: A placenta invade toda a espessura do miométrio, podendo atingir órgãos adjacentes.

Aumenta o risco de hemorragia pós-parto grave e histerectomia.

Base Científica: Fatores de risco incluem placenta prévia, cesáreas anteriores e cirurgias uterinas prévias.

Diagnóstico:

Utiliza-se uma combinação de:

  • Anamnese e Exame Físico.

  • Ultrassonografia Transvaginal e Obstétrica.

  • Ressonância Magnética (RM) (principalmente para avaliar malformações uterinas complexas e acretismo placentário).

  • Dopplerfluxometria (para avaliar o fluxo sanguíneo uteroplacentário).

Tratamento:

Depende da condição específica e pode incluir:

  • Acompanhamento pré-natal rigoroso.

  • Repouso.

  • Medicação (ex: corticoides para amadurecimento pulmonar fetal em caso de risco de parto prematuro).

  • Cerclagem cervical (para IIC).

  • Parto prematuro induzido ou cesárea.

  • Histerectomia (em casos de acretismo placentário grave ou hemorragia incontrolável).

Conclusão:

Os problemas uterinos e placentários podem apresentar desafios significativos para a gestação. O acompanhamento pré-natal adequado é crucial para o diagnóstico precoce, monitoramento e manejo dessas condições, buscando sempre o melhor desfecho para a mãe e o bebê. Se você tem histórico de problemas uterinos ou placentários, ou apresenta algum sintoma durante a gestação, procure imediatamente seu médico. Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui a consulta médica.